Morte de peixes no Rio dos Sinos: análise aponta produtos agroquímicos na água

As análises apontaram a presença elevada de elementos químicos utilizados em produtos agrícolas, como o Ferro (Fe), Magnésio (Mg), Potássio (K), além de brometos, cloreto, nitrogênio amoniacal e nitritos. Também foram encontrados os seguintes compostos ativos, caracterizados como pesticidas: Aletrina, Simazina, Clomazona e Spirodiclofen. “Com isso, comprovamos que o acidente ambiental foi provocado por um lançamento de substâncias altamente tóxicas, de origem agrícola, no Rio dos Sinos”, explica o titular da SEMAM, Ubiratan Hack. Com os resultados, mais uma vez a secretaria questiona as indicações iniciais feitas pelo Ministério Público que definem o esgoto doméstico não tratado como o único causador do problema ambiental. “Foram empenhados quase R$ 5 mil em levantamentos analíticos para comprovar uma forte constatação que deveria ter sido aprofundada pelos órgãos competentes estaduais”, cita Hack.
Entenda o caso
Na manhã do dia 1º de dezembro de 2010 a SEMAM foi informada de que peixes estavam aparecendo mortos ou agonizando em uma área próxima a divisa da cidade com São Leopoldo. Imediatamente, a equipe da secretaria, juntamente com membros da Secretaria de Meio Ambiente de São Leopoldo (SEMMA), foi até o local. Enquanto biólogos realizaram o recolhimento de algumas espécies e da água para encaminhar à análise, um grupo percorreu de barco os trechos impactados, onde apareciam quantidades expressivas de peixes nas mesmas situações.
Na divisa dos municípios de Sapiranga e Campo Bom, foi constatado um escoamento de efluente de uma lavoura de arroz e registrados relatos de populares sobre um forte cheiro sentido na localidade, provavelmente associado a algum produto agroquímico. O efluente formava uma mancha que percorria o rio no sentido oeste, na mesma direção em que os peixes eram encontrados mortos. A partir destas constatações, a SEMAM deu início às análises biológicas e laboratoriais, com o objetivo de identificar a real causa do episódio.
Análise dos peixes apresentou mutagênese
Através da análise biológica dos peixes, realizada pelos biólogos da SEMAM, foi constatado que houve quebra no material genético (cromossomos) e lesões no fígado e nas brânquias das espécies. O conjunto de danos verificados apontou para uma possível origem associada ao pico de Manganês (Mn) identificada pela Comusa – Serviços de Água e Esgotos de Novo Hamburgo, no dia do acidente ambiental. Com os resultados, somaram-se mais indícios para a associação do episódio à utilização de produtos agroquímicos. O estudo foi finalizado no dia 21 de dezembro e encaminhado à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM) e para o Ministério Público.
Com o resultado apresentado na análise laboratorial da água, confirmam-se as conclusões encontradas na análise biológica. “Estes compostos encontrados em grandes concentrações no Rio dos Sinos causam nos peixes as lesões constatadas, além de alterações no comportamento, também evidenciadas no dia 1º”, exemplifica o biólogo da SEMAM, Carlos Normann.
Laudo será encaminhado aos órgãos competentes
O laudo final, produzido pela equipe técnica da SEMAM e que contém a análise biológica, laboratorial e a pesquisa e interpretação de dados, será encaminhado ao Ministério Público, Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DEMA), Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) e à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM). “Este trabalho reforça o pedido de socorro que o Rio dos Sinos está fazendo. Há a necessidade imediata de ações técnicas qualificadas, que o Estado deve fazer para dar uma satisfação à opinião pública, não somente simplificar problemas como este”, explica Hack.