Roda de conversa “Mulheres Negras e o Poder: Nós também podemos!” iluminou temas como violência contra as mulheres negras, racismo e empoderamento coletivo

Linha de apoio
Evento ocorreu na terça-feira, na Casa das Artes, no Centro
Publicado em 22/03/2023 - Editado em 15/10/2024 - 10:29
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Daniele, Indiara e Vanessa durante o encontro
Crédito
Victor Lucas/Secult NH

“Nós somos todos racistas em recuperação”, alertou a professora Indiara Tainan. Esta foi apenas uma das falas potentes que ocorreram na noite da última terça-feira, dia 21, no auditório da Casa das Artes com a roda de conversa “Mulheres Negras e o Poder: Nós também podemos!”. O evento especial fez parte da programação da Secretaria da Cultura que celebra o “Mês da Mulher” nos espaços culturais de Novo Hamburgo.

Durante mais de uma hora de uma conversa franca, urgente e problematizadora, a professora e pesquisadora Indiara Tainan e a terapeuta holística e ativista Vanessa Stibel questionaram o racismo estrutural e a maneira como isto reflete no movimento feminista negro trazendo o subemprego, o desacolhimento, a sexualização das mulheres negras, a falta de representatividade nos espaços sociais e políticos, entre outras consequências. A roda foi mediada pela jornalista da TV Câmara, Daniele Souza, que também apontou dados importantes que atestam a segregação e desigualdades gritantes em nosso cotidiano, especificamente na cidade de Novo Hamburgo – dentre os 14 vereadores municipais, apenas 2 são mulheres, sendo elas brancas.

Ainda que mudando o foco somente para os políticos homens, a representatividade negra ainda surpreende e deixa a desejar; apenas 2 vereadores negros foram eleitos até hoje em Novo Hamburgo. A falta de representatividade, não só no âmbito político, mas também em contextos sociais, como a descrição da mulher gaúcha calcada apenas na “branquitude” e a invisibilização das mulheres negras em nosso Estado, bem como do que seria a representação de uma mulher bem-sucedida, também foram assuntos da roda.

As debatedoras lembraram que a preocupação com a diversidade e com questões de raça e classe relacionadas às pautas das mulheres, são uma urgência social e para os movimentos feministas. Nos coletivos das lutas femininas, há intersecções importantes que determinam que algumas mulheres serão ainda mais oprimidas e violentadas socialmente do que outras, variando de acordo com raça, classe, sexualidade, peso, localidade, entre outros marcadores sociais da diferença que geram as desigualdades vivenciadas.

“O não falar, não se posicionar, fala muito também”, explicou Vanessa Stibel, quando a roda citou exemplos da sutileza do racismo no dia a dia, seja no ambiente profissional, acadêmico, familiar e até mesmo no lazer. “Se a gente não conseguir fazer uma imposição com a fala, a gente também tá sendo conivente”, complementou Indira Tainan.

Isto reforça a importância de datas como o dia 21 de março - Dia Internacional contra a Discriminação Racial e Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé que prioriza o lugar de fala e os espaços de visibilidade de mulheres negras que, em outros momentos, são apagadas. Afinal, eventos e propostas como estas mantém viva a herança cultural e a luta destes grupos. “Essa é a grande tecnologia que podemos passar para as novas gerações, acolher e comungar todos juntos”, comentou Vanessa sobre o tema.

O encontro contou ainda com a arrecadação de absorventes e a distribuição da cartilha da Rede Integrada Laço Lilás sobre violência contra as mulheres. O grupo tem como missão salvar e transformar vidas femininas, por meio da união das entidades que atendem vítimas de violência em Novo Hamburgo, reduzindo significativamente os números de ocorrências. Para encerrar o evento o grupo Ararirê Oxóssi de mulheres capoeiristas se apresentou mostrando a força e o poder das mulheres.

O evento foi fruto da parceria com a Procuradoria Especial da Mulher, Rede Integrada Laço Lilás, Câmara Municipal de Novo Hamburgo e da Secretaria de Cultura de Novo Hamburgo.