Ex-diretor de Nelson Mandela realiza palestra histórica

Chikane, sobretudo, agregou valores humanos a quem o assistiu. Falou, especialmente, das experiências pelas quais passou durante o regime do Apartheid, que dividiu a África do Sul por grupos raciais entre os anos de 1948 e 1994. Durante o regime, os negros foram privados de sua cidadania tornando-se ilegais no país. Circunstância na qual os levavam usufruir de serviços públicos inferiores àqueles oferecidos aos brancos. A esta realidade, Chikane se refere ao momento como “o racismo legalizado”. E que, após o governo Mandela, pôde se instituir uma nação mais igualitária, mas que não esconde sua raiz histórica.
A construção da liberdade
Durante a palestra, o principal argumento defendido por Chikane é que o racismo não é natural, e sim resultado de processos históricos e de condições materiais. Para ele, os governos têm a obrigação de cuidar dos grupos menos favorecidos, por que os ricos, segundo ele, sempre terão formas de sobreviver. E no grupo de menos favorecidos se encontra o negro. “O verdadeiro desafio é mudar as condições materiais e aí sim venceremos o racismo”, argumenta.
No âmbito das políticas afirmativas, Chikane acredita que a sociedade deve corrigir o seu passado histórico por meio da nova geração de povos e culturas. “Quando modificamos as leis normatizamos a sociedade, e o racismo, de certa forma, é apagado, mas não corrigido”. Dentre os presentes no Salão de Atos, estava o prefeito Tarcísio Zimmermann, secretários do Município, demais servidores da prefeitura e alunos de escolas de Novo Hamburgo, todos visivelmente emocionados com a história de vida Chikane. Um homem que, em duas horas de conversa, narrou a experiência de ter ao seu lado a ideologia política de Nelson Mandela. Ao prefeito Tarcísio, restou o agradecimento. “Quero agradecer a magnífica aula de humanidade nos passada hoje por você, Frank”, finaliza.
Homenagem
Após o debate, a artista plástica Raquel da Silva, 23 anos, que possui deficiência auditiva, entregou, junto ao prefeito Tarcísio, uma coletânea com suas obras. Chikane retribuiu. “Agradeço a gentileza, e saiba que ao chegar à África pedirei uma reunião com Mandela para mostrar que, em Novo Hamburgo, existem trabalhos como este, feito por você”, disse. A “aula de humanidade” terminou com centenas de aplausos, lembrando a frase dita por Chikane, no início do evento: “Perante a Deus somos todos iguais”.